No terceiro trimestre do ano passado, a proporção de mulheres entre os donos de negócio caiu quase um ponto percentual em comparação com o mesmo período de 2019 -chegando a 33,6% dos cerca de 25,6 milhões empreendedores no país. Em números absolutos, a queda representa um retorno a patamares abaixo dos vistos em 2017, com a perda de 1,3 milhão de mulheres à frente de um negócio.
"Durante uma crise, você precisa se dedicar mais horas à inovação. Mas como vou fazer isso se estou cuidando de três filhos em aulas virtuais? A situação que estamos vendo é um reflexo da divisão de papéis. Isso, quando não estamos falando de mães solo. A pandemia é a mesma tempestade para todos, mas nem todos estão no mesmo barco", diz.
Apesar de ser agravada com pandemia, essa disparidade já era anterior. As mulheres dedicaram aos cuidados de pessoas ou afazeres domésticos quase o dobro de tempo que os homens em 2019, de acordo dados mais recentes do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Quando se fala em nível de ocupação, existe uma diferença entre homens e mulheres na faixa dos 25 a 49 anos com crianças de até três anos em casa. Para elas, a taxa é de 54,6% e, para eles, de 89,2% -entre mulheres pretas ou pardas, o índice cai para 49,7%. Os números constam no levantamento "Estatísticas de Gênero: Indicadores Sociais das Mulheres no Brasil", divulgado nesta quinta (4) pelo instituto.
Uma dessas fragilidades é o estereótipo de gênero estabelecido em torno dos cuidados, frisa Tayna. "A feminização do cuidado é atribuir essa responsabilidade à mulher. Precisamos mostrar que o cuidado é uma responsabilidade coletiva, não há nada inerente à natureza feminina ligada a ele. É um passo que parece simples, mas não é".
Ao abrir negócios, muitas empreendedoras optam por um segmento em que já têm uma habilidade desenvolvida, diz Regina Madalozzo, coordenadora do Núcleo de Mulheres e Território do Insper. "No mercado de trabalho ou no empreendedorismo, elas só se sentem preparadas quando têm completo domínio do que estão fazendo. E seguro é ficar em tarefas de cuidado", diz a especialista.
Em 2019, mulheres correspondiam a apenas 13,3% das matrículas nos cursos presenciais de graduação na área de computação e tecnologias da informação, contra 88,3% na área de bem-estar (que inclui cursos como serviço social), segundo levantamento organizado pelo IBGE.
Com o conjunto de dificuldades enfrentadas no dia a dia, mulheres parecem ter sido mais afetadas psicologicamente do que homens com os impactos da pandemia, de acordo com dados de uma pesquisa realizada pelo Instituto Rede Mulher Empreendedora feita com 1.555 empreendedores entre setembro e outubro do ano passado.
Apesar desse cenário, as mulheres foram capazes de buscar inovações para manter seus negócios, lembra Ana Fontes, fundadora da Rede Mulher Empreendedora.
"Cerca de 40% das empreendedoras têm no negócio a principal fonte de renda, então inovar não é uma questão só estratégica, mas uma questão de sobrevivência. Elas aplicaram medidas práticas, como reduzir despesas, reorganizar as contas, postergar dívidas, mas também procuraram o caminho da capacitação, principalmente no que diz respeito a transformação digital", comenta.
VEJA PROGRAMAS DE APOIO AO EMPREENDEDORISMO FEMININO
B2Mamy Womby
O projeto B2Mamy tem diferentes frentes de capacitação para mães, entre eles o Womby, voltado a mulheres periféricas, com formação em profissões digitais. Além disso, também tem uma casa em Pinheiros que funciona como hub, em que mulheres podem se conectar umas com as outras
Sebrae Delas
Projeto de aceleração voltado a empreendedoras mulheres, que oferece capacitação e acesso a eventos e redes de networking
sebrae.com.br/delas
Plataforma B2B
Com objetivo de promover oportunidade de negócios, o site é parte do programa Ganha-Ganha, da ONU Mulheres, e serve como ponte entre mulheres empreendedoras e empresas que querem comprar produtos ou serviços. Quem faz a inscrição, que vai até 18 de março, pode depois participar de rodadas de conversas e negócios de diferentes setores.
mujeres-vanguardia-nuevas-economias.b2match.io/
Potência Feminina
Programa do Instituto Rede Mulher Empreendedora é feito parceria com o Google e oferece capacitações gratuitas em empreendedorismo e empregabilidade e tecnologia para mulheres. Além da iniciativa, o instituto tem outros programas como o Ela Pode e Elas Prosperam, e uma programação voltada ao Dia Internacional das Mulheres